No século 21, por causa da aceleração do espaço-tempo, da biotecnologia e da virtualidade da vida, teremos, cada vez mais, o desespero da "instantaneidade". O aqui e o agora vão ser fugazes. O passado será chamado de "depreciação"; teremos nostalgia de um presente que não tem repouso e angústia por um futuro que não pára de "não" chegar.Arnaldo Jabor, O Globo e O Sul, 4 de outubro de 2005.
Será o fim do fim. Qualquer esperança de síntese será ridícula. O mundo será fragmentário, um fluxo sem nexo, e nossa infinita desimportância no universo ficará nua. Como poderemos ser humanos perante a ascensão incontrolável da tecnologia?
Teremos saudades da linearidade, da perspectiva, do princípio, do meio e do fim; teremos saudades do inútil e da lentidão. A indústria sentirá este mercado potencial e, além de nos vender celulares e palmtops, também inventará drogas da câmera lenta, do vazio, do inerte, do descanso pelo tédio.
Definitivamente, haverá o fim do "sujeito". Os últimos resquícios desta ilusão individual serão abolidos. No séc. 21, seremos todos objetos, sem o charme de qualquer sentimento de especialidade. Mergulhados em uma incompreensão total dos signos, nenhuma razão nos restará a não ser as regras de ouro de manutenção dos mercados, estes sim, definitivamente organizados, lógicos e previsíveis. As corporações serão proprietárias exclusivas das "grandes narrativas".
Como a História será incompreensível, talvez floresçam Parques Temáticos de Sentido (os PTS), onde poderemos viver epopéias que acabam bem ou grandiosas apoteoses de pessoas ou nações. Como os filmes de hoje prefiguram, teremos Hiper-Hollywoods transcendentais. (...)
Haverá campos de concentração "cinco estrelas", caríssimos, luxuosos, onde as percepções vão cessar, onde os sentidos serão abolidos, em busca de um silêncio sensorial aterrador, como no clássico de sciencefiction "Tiger Tiger", de Alfred Bester.
O corpo humano vai mudar. Os primeiros sinais já estão nos silicones, nas próteses, nos narizes decepados, nas clonagens, nas transmutações genéticas. Haverá uma "involução da espécie". Por falta de interação com a natureza, os corpos vão degenerar e, ociosos e molengas, vão aspirar à condição de "coisas". As orelhas vão tender para celulares; os braços, para tentáculos vorazes; os olhos, para telas de cristal líquido; os paus e vaginas, para eixos e encaixes.
Acabará o amor romântico. Só tesões instantâneas e fugazes. A fome de mais prazer esgotará a sexualidade e buscará complementos eletrônicos e virtuais. Haverá hiperorgasmos, tão fortes que esbarrarão nos limites do corpo e viverão mais além deles, sozinhos - orgasmos sem corpo, orgasmos gemendo no ar. O desejo cessará por excesso de sexualização.
A arte acabará, destruída pelos efeitos especiais. Dela, só ficarão as emoções, reproduzidas em computação: o belo, o sublime, o épico, o lírico, o trágico - bastará a programação de algum êxtase estético, até de um estilo literário, mas sem obra por trás. As massas só terão circo; pão, talvez.
A política será um espetáculo. O mundo será uma grande "economia sem sociedade", se espalhando por cima dos ex-Estados-Nações. A democracia será mostrada em museus e os Congressos serão circos, fingindo legislar, mas sem nenhum acesso a vida social real.
Com a América Latina toda dolarizada, militarizada e careta, as guerrilhas vão virar parques temáticos também, como viraram os "zapatistas" de Chiapas, visitados pelos intelectuais franceses. Como se anuncia hoje na Colômbia e na recente fundação de uma base americana no Paraguai (ninguém se tocou ainda...), teremos perímetros fechados de revoluções virtuais, estimulados pelas corporações, para dar vazões aos ódios e desesperos, à maneira dos antigos sacrifícios aztecas ou como as "horas de Ódio" de Orwell, a única profecia que rolou de "1984".
Haverá o fim da piedade, o fim da compaixão. As populações miseráveis ou desnecessárias ao mercado serão exterminadas, sob os protestos ridículos e inaudíveis de meia dúzia de humanistas fora de moda.
A vida social poderá virar um inferno, sem dúvida, mas o mercado é sábio e precisará da vida pois, afinal, sem vida não haverá lucro. Assim, as corporações vão programar uma lucrativa sobrevivência de esperanças. Talvez sejamos mais felizes como coisas.
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Mas, muito antes disso, virá o fim do Arnaldo Jabor.
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkk, DrPlausivel disse tudo!
ResponderExcluiro orkut vai acabar e toda a sua facilidade em se comunicar, o google irar ter uma nova feramenta para nos vigiar. não teremos mais como fuxicar perfis, e nao copiaremos mais frases e colocaremos em nosso status, nao irar ter espera pelas respostas, sera tudo rapido sem pc, mas sim pelo nosso proprio olho que vera quem vai falar conosco. e esse fim sera instantaneo e nem sentiremos ele. iremos dormir e ele sumira como um sonho que se foi e nem lembramos mais
ResponderExcluirArnaldo Jabor é um grande piadista... só q nem é engraçado. E tem quem ainda o leve a sério. Fazer o q... coisas da vida!
ResponderExcluirHahaha... Esse é campeão mesmo; dificilmente será batido!
ResponderExcluirAh, esquenta não!
ResponderExcluirUm grama de soma cura mil pensamentos lúgubres.