Na era dos insensatos, eis que surge mais um besteirol, a que os apressados de sempre já deram até nome: idioma cibernético. ... O que não se pode entender é que respeitados intelectuais considerem normal o que está ocorrendo. ... Pois na dita linguagem cibernética a língua portuguesa está sofrendo de diarréia e tenesmo ao mesmo tempo. Ora o jovem diz demais e confusamente, economizando em letras, mas se perdendo em prolixias, ora está preso ao reduzido universo vocabular que o vitima principalmente na escola. Como aprender um texto sofisticado, se professores e livros, por melhores que sejam, não conseguem contato com repolhos e alfaces ali matriculados? ... Os sem-terra e os sem-livro habitam o mesmo Brasil. Fora da Galáxia Gutenberg, todo mundo será marginal e como tal será tratado. Assim como a gíria não livra os meninos pobres dos seculares males sociais, o idioma cibernético não os livrará da marginalidade em que vivem, da falsa cultura em que se movem, da pobreza vocabular que os leva a esses terríveis insucessos numa simples redação de vestibular.
Deonísio da Silva, Observatório da Imprensa, 15/3/2005
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